quarta-feira, 8 de julho de 2009

"...she walks along the edge
of where the ocean meets the land
just like she's walking on a wire
in the circus..."


Counting Crows.



para Demian.




Sim, conversaríamos no escuro. A total falta de iluminação artificial, contrastando com a clareza, ainda não prejudicada, de nossas vozes. Os sons que denunciam a posição dos interlocutores, insinuam uma proximidade presumida. Lá fora faz frio, pouco. Não se pode divisar qualquer imagem até que os relâmpagos irrompem a quietude do céu. O barulho da chuva fina atua enquanto trilha sonora.
Lá dentro o aroma de carvalho misturado a uma bebida com aroma floral, com cor escarlate e paladar marcante, rivaliza com a quase total ausência de imagens. Somente a fugaz luz dos relâmpagos é capaz de deixar divisar um dragão desenhado em uma omoplata que resplandece e some, ao sabor da tempestade.
E a chuva aumentaria, claro, segundo os ânimos no interior da sala, sobre o tapete. Sentidos seriam exigidos, para suprir o que a visão não pode fornecer. Cada um deles, ao limite. Deleitando-se com o som e a fúria da estação, tornando o princípio de inverno em quase verão, a atmosfera morna do chalé nos faria adormecer, de cansaço e satisfação. O despertar desta madrugada significaria o renascimento, antes da despedida, inevitável.